ao fim deste poema
não sobrará pérola sobre pedra
pena que a pena não pese mais que o papel
em que desaguo
mortal
a tinta pinta as palavras
escorre a areia da ampulheta
a palavra é a tinta seca
o canto do lobo em direção à lua
pedra
sobre
pedra
calaram os hinos.
tem voz o teor
do sangue derramado.
a luz propaga um arco,
o sol coagulado no tempo
refletia a manhã vermelha
no Horizonte Velho.
ontem e amanhã eternidade são...
somente hoje acaba em vão.
lá é o lugar onde nasci nu,
lá surgem as estrelas.
eu Era quando o sol se levanta...
na noite abandonada dos meus silêncios,
feito em mim o sangue me percorre os espaços.
de outros mundos são meus sonhos
sutilezas esquecidas e bárbaras,
brutais testemunhas de um mundo,
na lembrança em penumbra.
Parcela
Deito o ouvido no mundo
Ouço a voz do útero da mãe terra
Deixa eu te mostrar o caminho
pois não sei aonde levará
Sou versado no desconhecido
Danças para a lua, pobre palhaço do antigo circo ?
Ecoam tuas gargalhadas vazias
Pela vazia lona:
Deserto sob o sol ?
Quando chegarem os forasteiros estarei dormindo
Os troncos agora são barcos
mas os rios secaram
Qual o pensamento não cabe na palma da mão ?
Estes teus olhos de negro diamante
Corpo de jade
Perfume das ervas
Ouço pulsar teu coração
a dias de distância
Eu, réu,
julgarei o juiz
libertos serão os pássaros da gaiola
lembrarei quão tristes
seus mudos cantos
no canto da sala
no pranto da cela
para ser livre não há parcela