Baía de todos os poetas
de todos os dias
banha palavras nas tuas mágoas
poesia das causas perdidas...
poetisa dos loucos, dos pobres,
dos miseráveis nobres
e arrependidos sem causa
eles reduziram tudo a pó...
há poetas nas cavernas
e nos leitos de morte
falam a língua dos insensatos
à beira da loucura ou além dela
paira o absurdo manto do espírito
nós, preexistentes à falência dos planos de papel
e sobreviventes do naufrágio de todo sonho que se tem debaixo do sol
cantamos nossos salmos vivos aos ares
fazer da ruína um estandarte
é próprio de quem perdeu a máscara do grande teatro, amém.
outra noite o vento me disse:
o poeta está morto, inerte,
e não há musa que o desperte.
Afrodite migrara para outros mares
a ninfa ruflara asas rumo longe
saudades pousaram nos ombros
jamais outro pulso em harmonia
nunca mais
um só ser
ser um só
só um ser
um ser só
sufoca, murcha a flor, insípida
e nem um suspiro liberta
no meio do seu deserto
nunca mais
jamais que amor
ainda é tempo de amoras?
à flor seca
a sede pede mais que a m o r t e
pode lhe dar
então agora somos húmus
um só corpo e destino nos une:
a esquartejada imagem amada
e o canto fúnebre, árvores nuas
pássaros chamam a primavera
ao fim do inverno o vento voltou e me disse:
a poesia está pálida, ausente
nem na alma ela pressente
o mundo acabou para ela
enquanto a brutalidade e o extermínio,
a indiferença pensante rumina laços de aparências
humana dor inquietante, a consciência
leva grande leva de almas a perscrutarem o infinito
em ritos mórbidos, para onde foram todas as flores?
à luz da aurora o aborto e a tortura
deuses queimados nas fogueiras
crianças que serão eternamente crianças
em seus túmulos despertas
incapazes de sobreviver ao dilema
de ser ou não-ser
e o que lhes resta é subir a colina
sem saber o que ocultam as brumas das alturas
quando já nem és mais humano,
senão um manto a cobrir o espírito
enquanto o veneno e o vento não desmancham pra sempre
as linhas do passado
seria imortal e ainda assim humano?
luminoso como um demônio?
Um comentário:
...não por acaso, cheguei à Flor do Acaso, e me encantei com a alma poética do anão de jardim...rsss...que lindo é tudo aqui!!...posso voltar mais vezes? muahhhhhh
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