julho 16, 2008

Sangue de Flor

...



um brujo me contou,
se quiseres brotar junto aos corais
respirar sob as águas,
profundo emana
,
rasga a garganta da flor
suga o sangue da flor


a aparição dos fantasmas de outrora
reluz face sol
águas, minhas águas

há uma gota de vinho na terra
a profetisa etérea

já viste uma gota de sangue
transcender o corpo e molhar o chão?

eu vi a terra vermelha
e o sangue não coagulado,
cheiro de morte.

a flor deve estar viva
até cravar os dentes em pétalas

...paira abismo além...

sacrifica a ninfa ao deus beija-flor
paira além dos abismos

consumida pelo fogo
seu começo e seu fim
se unem num laço extremo,
eterno
o último elo

o sangue ao fogo mata
a sede dos deuses

a voz que tem sustentado a mentira,
a ousar encantar juras quiméricas,
muda jaz
sem dia que a desperte,

sem canção pra cantar,
nenhum vento forte
nem compartilhar do banquete dos pássaros
apenas à espera de quem nunca virá

atravessar túneis subterrâneos para enfim
esvanecer em pensamentos de fumaça
ao fim de tudo
não encontrar o ouro do filósofo
e sepultar a verdade
na eterna lápide e em seu epitáfio:
Tendo reverenciado Sophia ao olhar para o sol,
olhos meus cegaram, e não era Aletheia.
era apenas o sol -
essa estrela colossal
que quando viaja pela região dos mortos
mergulha-nos a todos em profundezas e se esvai
dissipa, assim como a voz no ar
o animal na terra
a alma no oceano
e a luz do fim da vela
dissipa, últimos suspiros
lembrança derradeira, a vida se cala
os olhos refletem o destino e se fecham para sempre


o mundo subterrâneo atrai e nos espera
herança nossa treva vida

viagem ao fim do mundo
antes que o mundo findo
exale vegetal aroma
da flor decepada em plena ceifa
e a sangria pinte a planta a terra de vermelho

all I see is blood of flower
purple blood on the floor

the blood of the flowers on the floor
I can't take it anymore
make silence and close the door


a Ilha bem-aventurada espera por mim
onde sopra o vento-sul
eu e a maré a vida




"... na insuficiência ou na inade­quação e mentira - poderíamos dizer - portadora casual da vivência que encerra ela mesma e a mim, toda humanidade e até mesmo toda criatura viva, que é e desaparece, da vivência da vida de que somos os filhos?"
(C. G. Jung)


Um comentário:

Ana Cláudia Zumpano disse...

eu sempre aqui... qnd o sol nasce, e qnd ele se põe... alimento das palavras do poeta, e se elas me faltam o dia fica nublado, e o sol do deserto.