julho 01, 2008

Serenata noturna



amo ouvir a verdade

mais ainda quando é forte

a dor de ouvi-la.


ela me torna cada dia mais cruel

...mas eu nasci inocente

sem pecado original


(incomoda-te o parentesco com Adão e Eva?

Incomoda a imagem e semelhança?*)


a lua deserta em meu pensamento

a morte é certa. Lamento.


(...bem sabes que o que deixa de existir são as palavras...)


espero te encontrar de novo aí dentro em teu ventre

espera por mim na primeira volta do Carrossel

com uma flor de girassol nos cabelos


(quando éramos crianças, lembra? - já o fomos um dia...)


por nós, por toda a terra,

à humanidade em extinção,

eu dedico um Epitáfio:

a primeira vez que vi o sol

e toquei a luz na terra eu sabia:

vim para desaparecer


(bem sabes que algo desaparece,

mas não é por isso que deixa de existir.)


uma só palavra, ainda: Adeus.


a verdade é um espelho

a refletir o sol.

cega nossos olhos,

cala o peito o punhal.


e la nave va!


abre, olha em volta:

ninguém trouxe a boa nova


(- olá, como vai a vida?

- estou morrendo, não há mais tempo.)


olha em volta: tudo está parado

agora.


o tempo de procurar de mão dadas

dissipara o isolamento.

agora, haverá gelo a se formar em torno aos corações


(e nossas vozes estão roucas;

e aonde estamos indo? – ninguém

sabe – morreremos.

deixar a herança da desesperança e da fome

que nunca saberemos calar.

a fome que trouxe de volta o terror;

o medo que nos espreitou das sombras;

o escuro do céu de onde esperamos ainda,

talvez uma cura, ou a água pura da chuva

lavar nossos trapos ensangüentados

e apagar os rastros de nossas pegadas no caminho

e esta história escrita nas areias...

e de manhã despertar com a primeira estrela.

e se ela não vier te resgatar da escuridão?

os sonhos nunca mais hão de amanhecer.)


(tecidas pelas mãos do destino

tuas dúvidas te farão cair.

talvez levemente como as nuvens se aproximam dos montes,

ou com toda a dor de ser homem,

ser alguém com que nem tu mesmo podes contar

pois estás em queda livre e o abismo só acaba

quando mergulhas no Poço das Desventuras.)


lembra: és uma dentre as criaturas feitas para perecer, e fazer parecer que são imortais.

(não te incomoda a imagem e semelhança?)

carne, osso, sangue, alma ventre e espírito talvez...


é tempo de voltar e ver

o que o estio findo deixou para trás, agora que a chuva vem.

Nós te vemos cá das alturas, andar por caminhos tortuosos, a escalar a montanha que te separa do teu fim.

A olhar aqui da janela és tão ínfimo, pequeno insignificante, bem poderias ser esmagado como um verme*...

quem diria que moves as estrelas?



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